No dia 19 de outubro, a exposição do gênio Salvador Dalí chegou ao Instituto Tomie Ohtake e, desde esse dia, foi um sucesso. Filas gigantes têm se formado de terça à domingo para ver a maior retrospectiva das obras surrealistas do pintor e, por isso, o Guia da Semana foi conferir o que está rolando por lá.
Famoso por manter seu bigode extremamente fino e com as pontas para o alto, o artista catalão nasceu nove meses após a morte de seu irmão, de dois anos de idade, também chamado Salvador, assim como seu pai.
Dalí disse que seus pais não suportaram a dor dessa morte e, por isso, quiseram ter outro filho. Tornando-o, então, um filho substituto. O artista dizia que justamente por ter nascido para substituir um vazio, nasceu duplamente e foi o bem amado que se ama demais.
Seu pai era um rígido e autoritário advogado e Dalí o odiava, pois sentia que seu amor era pelo outro filho. Isso fez com que tivesse comportamentos provocadores em relação às pessoas a sua volta, mas, segundo ele, era sempre para enfrentar o pai.
Dizia também que sua forma exibicionista de ser foi o que o salvou do lugar de substituto e o modo excêntrico e exagerado de se comportar foi sua marca registrada até sua morte.
Gala, sua mulher, o incentivou a tirar proveito de seu modo “surrealista” de ser para deixar sua marca no mundo das artes. Mas foi depois de ler o livro "A Interpretação dos Sonhos", de Freud – a qual afirmou ser a maior descoberta de sua vida – que suas obras passaram a ser mais abertas e deliberadamente freudianas, com símbolos sexuais justapostos a estranhas paisagens fantasiosas.
Dalí, então, conheceu Freud e mostrou sua última obra da época, "Metamorfose de Narciso". O pai da psicanálise observou a tela e disse que estava inclinado a considerar que todos os surrealistas fossem idiotas, mas que o jovem Salvador, com seus olhos fanáticos e sua técnica perfeita, fez com que ele pensasse diferente, dizendo também que seria muito interessante explorar analiticamente suas pinturas.
Na exposição, 95% das obras são inéditas no Brasil e foram cedidas pelo Museu Reina Sofia e pela instituição Gala-Salvador Dalí. Com curadoria de Montse Aguer, pinturas, gravuras, capas de revistas, ilustrações feitas para livros como "Alice no País das Maravilhas", "Dom Quixote" e "O velho e o mar", fotos, documentos e filmes estão disponíveis para o público, que enfrenta uma fila que, com certeza, vale a pena. Para quem ainda não foi, a exposição fica em cartaz até dia 11 de janeiro de 2015.