O que faz de uma arte uma obra única? Para o artista plástico Paulo Lara, um criativo, “existem artistas com técnicas espetaculares, que fazem obras parecerem fotos, mas a cada dia que passa, percebe que a criatividade vale mais. Ser criativo é inovar, é criar o que não existe, é ser autêntico, é ter estilo”.
Nascido em Itapetininga – interior da cidade de São Paulo – o artista começou seus primeiros riscos mal traçados aos dez anos, quando mudou-se com a família para Itu –onde mora até hoje, com a esposa e os filhos, “não me lembro de ter desenhado antes disso”, conta.
Das cópias dos personagens da Disney, feitos em cartolina e coloridos com tinta gouache ao primeiro lugar de concursos de desenhos promovidos pela prefeitura, Paulo passou a ousar e fantasiar cada vez mais o estilo de suas obras. Porém, ao terminar o Ensino Médio, decidiu fazer arquitetura, sem abandonar os desenhos.
Fez de sua casa um escritório de arquitetura e em 2001 montou o seu próprio. Logo no primeiro dia de mudança, vendeu um quadro e percebeu que, de fato, tinha potencial para fazer arte. À medida que os pedidos e as vendas foram aumentando, Paulo foi deixando o arquiteto de lado e dedicando-se cada vez mais ao seu lado artístico.
Participou de mais de 60 exposições e revela que quer expor muito mais obras, “o fundamental para quem quer mostrar suas obras é dar a cara para bater”. Entretanto, foi seu estilo único de art pop 3D – onde os traços não seguem regras nem os padrões comuns – que o tornou mais conhecido, “muitos dizem que minhas obras têm vida. Se uma obra tem vida é porque não está morta, sendo assim minhas telas falam por si só”, diz.
Acompanhe a entrevista, conheça Paulo Lara e entre em seu incrível mundo 3D:
O que é arte para você?
A arte tem que mexer com os sentimentos, com a emoção, com as lembranças. Eu já visitei exposições onde sai da mesma maneira que entrei, mas outras mudaram minha maneira de ver e fazer arte. Seja conceitual, ou não, tem que provocar reação nas pessoas.
Foi difícil ingressar no mercado?
Foi sim. No começo eu participava de algumas exposições, mas nada excepcional! Tem que desembolsar muito dinheiro para entrar em exposições e galerias. Minha obra era pura técnica e chamava atenção por isso, mas era só isso. Tudo mudou quando resolvi participar de um Salão em São Paulo, gratuito, onde consegui ficar em 4º lugar (pra mim foi como 1º). Depois disso, tudo mudou. Eu costumo dizer que tem duas maneiras de entrar no mercado das artes. A primeira é quando alguém te coloca, mesmo que sua obra não seja tão boa, neste caso o artista chega antes da obra, ou seja, a obra não importa. E a outra é quando o seu trabalho abre as portas. Esse é o meu caso, minha obra sempre chega antes de mim.
As cores e os traços de sua arte pop em 3D chamam bastante atenção. Como iniciou este processo criativo em suas pinturas?
Foi no final de 2004 quando minha filha me pediu para fazer um desenho para colorir. Exigiu que o desenho não tivesse compromisso com as regras convencionais. Peguei papel e lápis e fiz um vaso em uma perspectiva e uma mesa em outra. Assim nasceu o meu estilo, a partir disso não fiz outra coisa. Quanto mais eu ousava nas cores e nas distorções, mais as pessoas gostavam do que viam.
Qual a diferença entre produzir arte pop 3D e outros tipos de arte?
Creio que a maior diferença é não ter compromisso com a realidade. Embora eu faça somente coisas existentes, mas com toque de humor, eu trago certa fantasia na mente das pessoas, onde a casa vira um cenário de cartoon. Não preciso me preocupar com as “normas” do desenho tradicional.
Que prêmios conquistou e qual deles teve maior representatividade para você? Qual é o sentimento?
Já ganhei vários prêmios de 1º, 2º e 3º lugar, mas o que mais me marcou foi de um Salão em São Paulo, gratuito, onde consegui ficar em 4º lugar, pra mim foi como 1º. Depois disso tudo mudou.
Na sua opinião, o Brasil valoriza seus artistas como deveriam?
Ainda não, mas isso já está mudando! Vejo muitas galerias de artistas que se unem para ter seu próprio espaço e vivem da venda de obras de arte. Creio que isso é um sinal de que o Brasil está acordando para o mundo das artes. Creio também que se as galerias cobrassem menos comissão e não superfaturassem o artista, as obras de arte seriam acessíveis. Por isso que tenho a minha própria galeria.
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