No ano passado, enquanto Lucas Levitan caminhava na rua, um tijolo caiu do quarto andar de uma construção e quase o acertou. Caiu a 10 centímetros de sua cabeça e espatifou-se no chão. Naquele exato momento ele percebeu que tinha muito mais a fazer. Mais do que isso, se deu conta de que ainda queria realizar muitos projetos antes que se encontrasse com a morte. No mesmo dia, voltou para a agência onde trabalhava e pediu demissão. A partir daí, passou a fazer o que mais ama no mundo: arte.
Artista multifacetado, o novo fenômeno do instagram Lucas Levitan fez faculdade de artes, mas parou no meio do caminho, migrando para publicidade - curso no qual se formou. Foi sócio da empresa de design República das Ideias e, depois, decidiu voltar a estudar arte, mas dessa vez em Londres – onde pretendia ficar por dois anos e está até hoje, há 10.
Nesse meio tempo trabalhou com publicidade, dedicou-se a projetos de filmes, documentários e caminhou pelo mundo da ilustração. Basicamente, experimentou um pouco de tudo, e justifica, “gosto de ter um dedo em cada pote, e como tenho dez dedos tento aproveitá-los ao máximo”.
Hoje é conhecido pelo projeto Photo Invasion, onde cria ilustrações em cima de fotos de pessoas desconhecidas, fazendo com que as imagens conversem com sua arte e vice-versa.
Na maioria das vezes, suas criações tiram a seriedade das fotos, dando um toque de humor e leveza. Em outros casos, cria-se um universo poético ou até mesmo sombrio, fazendo com que possamos refletir a respeito de um tema específico.
Acompanhe a entrevista, mergulhe em seu universo e conheça mais de seu trabalho. Será impossível continuar enxergando fotos da mesma maneira.
Como se deu sua identificação com a arte?
Eu não tive escapatória. Meu pai é músico, arquiteto, cartunista; minha mãe uma fotógrafa que tem o olhar muito sensível e uma grande artista. Além disso, passei muito tempo na casa dos meus avós, onde construíram um mini mundo.
O que a arte representa na sua vida?
Arte pra mim é a forma livre de mostrar o que penso. Com a arte que faço me exponho sem máscaras e sem preocupações de parecer algo que não sou. Em todos os demais trabalhos que fiz, há um certo receio de ser entendido, como na publicidade ou design que se faz com um objetivo claro de vender e comunicar. Na arte sou transparente, sou eu mesmo sem a ansiedade de agradar público algum.
Como surgiu o 'Photo Invasion'?
Foi em uma época que estava fazendo muitas coisas ao mesmo tempo. Trabalhava numa agência de publicidade, estava editando meu documentário, escrevia uma história em quadrinhos e estava tirando bastante fotografias. Era muita coisa ao mesmo tempo.
Photo Invasion é um projeto que junta duas dessas paixões, ilustração e fotografia. Comecei fazendo ‘invasões’ em minhas próprias fotos, mas vi que interagir com a de outros era mais divertido.
Algumas intervenções tem sentido poético e outras de humor. Como acontece seu processo criativo?
Me divirto fazendo. Viajo por contas de Instagram buscando minhas vítimas e espero que alguma imagem me inspire. Eu não escolho as fotos, elas que se fazem ver. Acho que a surpresa de ser invadido é melhor que a expectativa de imaginar o que eu faria com uma foto enviada. Gosto da liberdade de criação. Algumas pedem uma "invasão" poética, outras com humor mais escrachado. Esse é o projeto em que me sinto mais livre para expor minha maneira de pensar e criar. Para conhecer meu humor, é só entrar na página.
Como define seu projeto e como encara o fato de ser exposto no Instagram?
É um modo lúdico de ver fotografia. O Instagram me ajuda a caçar imagens e encontrar vítimas em toda parte do mundo. Foi a plataforma perfeita para este projeto. É um local onde se encontra grandes fotógrafos profissionais, amadores e também o que chamo de 'clicadores', pessoas que mostram seu dia a dia com fotos ordinárias, mas igualmente interessantes. É uma fração pro mundo no instante em que se olha. Nos permite entender um projeto em parceria. Até o momento não houve problema e muitos dos invadidos tornaram-se meus amigos.
É possível viver de arte?
O mais importante é descobrir algo que te faz acordar sorrindo de manhã. No meu caso é o trabalho em arte e o que ando produzindo como ilustrador. Durmo imaginando o que tenho que fazer no dia seguinte. Isso é o que sempre devíamos buscar, ocupar nossas horas fazendo o que tem a ver com a gente.
Porém, em termos financeiros é mais complicado. Meus projetos de arte não tem o objetivo me fazer rico, mas são os que me fazem mais feliz.
Como você vê a diferença da valorização da arte no Brasil e em Londres?
O Brasil é muito criativo e a arte permeia todos os meios. Há milhares de artistas plásticos, músicos, escritores, porém na Inglaterra a arte é mais institucionalizada. O artista pode ser profissional com mais facilidade, há um mercado mais maduro e muito mais galerias. Aqui é comum ver pessoas comprando trabalhos de arte, indo a exposições e apoiando a cena artística. No Brasil é comum escutar pessoas perguntando para artistas como fazem para ganhar dinheiro, e isso faz parecer que ser artista é apenas para corajosos, como se isso fosse impossível. Essa falta de cultura de apoio à arte faz com que menos pessoas se dediquem a essa profissão. Esse é um dos motivos que sigo em Londres, aqui tenho a sensação de que posso viver de arte sem precisar dar satisfações aos céticos.
Tem algum outro projeto em vista?
No momento estou aproveitando o sucesso de Photo Invasion e montando um Webshop onde as pessoas poderão comprar algumas das imagens. Esse shop também aceitará encomendas para invasões em fotos pessoais.
Estou negociando com um grupo para criar alguns produtos com a minha marca, e isso deve estar pronto em algumas semanas. Além disso, estou com uma historia em quadrinhos quase pronta e pretendo lançá-la em três idiomas (Espanhol, português e inglês), ainda em 2015.
Tem alguma dica para quem está começando?
Que sorte estar começando algo. Eu adoro a sensação de começar. Começo de namoro, primeira garfada e até a maravilha que é abrir uma pasta de dente nova. O futuro é incerto para quem está no início, mas ainda tudo é possível. É mais bonita a inocência de quem começa do que as certezas dos experientes. E a única maneira de se sentir novo a cada dia que começa é fazer o que se gosta.