Arte
Por Nathália Tourais

5 artistas surrealistas para você se inspirar

Ao prestar atenção na realidade retratada pelo surrealismo, desvendamos nossos próprios enigmas ocultos.

Obra O Filho do Homem, de René Magritte (Divulgação)

À medida em que o tempo avança, mais pessoas se dão conta da existência da arte, adquirindo conhecimento e aprendendo, enfim, a interpretar e admirar uma obra. Mais do que isso, começam a perceber o quão grande e encantador é esse universo.

Para quem não conhece, o Surrealismo nasceu em Paris, no começo da década de 1920, e tornou-se uma das mais importantes tendências artísticas do século. O termo surrealista, ou surreal, entrou para descrever acontecimentos bizarros ou estranhamente coincidentes.

Os artistas dedicados à tal influência, buscavam descobrir novos estados mentais e, para isso, realizavam experiências com hipnose, drogas, álcool, sessões espíritas e transes. Faziam jogos de respostas rápidas para revelar associações ocultas e contavam seus sonhos e os analisavam coletivamente enquanto discutiam os escritos psicanalíticos de Freud.

O Guia da Semana listou 5 surrealistas incríveis que você precisa conhecer. Confira:

1- Giorgio de Chirico

Giorgio de Chirico, também conhecido como Népoli, participou do movimento Pintura Metafilística, considerado um precursor do Surrealismo. Sua pintura antecipa elementos que depois aparecem na pintura surrealista: padrões arquitetônicos, grandes espaços nus, manequins anônimos e ambientes oníricos.

A incorporação de elementos presentes nas naturezas mortas - luvas, bolas, frutas, biscoitos etc. - reforçam a idéia de deslocamento e a sensação de irrealidade que rondam seus trabalhos, onde as peças não se articulam. Os manequins e estátuas também são presentes e muito explorados.

A meio caminho entre o homem, o robô e a estátua, os manequins enfatizam o caráter enigmático e o sentido onírico das construções de De Chirico. Mas, antes de qualquer outro sentido que venham a adquirir, são formas geométricas, que evidenciam as réguas e linhas coordenadas que cercam e definem os corpos dos manequins. Esses mesmos instrumentos de medida e construção - compassos, esquadros e réguas - habitam os cenários metafísicos do pintor, que influenciou Dalí, Miró e muitos outros.

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2- Salvador Dalí

Essenciais em sua prática, Dalí fabricava em si mesmo estados extremos de ansiedade e aflição, nos quais tentava turvar a distinção entre sua imaginação e a realidade. Esse estado intensificado e paranoico desencadeava sua capacidade imaginativa, fazendo-o criar imagens baseadas em objetos reais, suscetíveis a múltiplas interpretações.

Uma de suas obras mais famosas, A Persistência da Memória, é marcada por figuras extremamente interessantes. O relógio mole e derretido, veio à sua mente em uma noite quente, após uma dor de cabeça tê-lo feito desistir de acompanhar sua esposa, Gala, ao cinema.

Sentado diante dos restos do jantar e contemplando uma paisagem na qual estava trabalhando, notou que o queijo camembert havia derretido e começava a se espalhar para fora do prato. Foi a imagem do queijo que deu à Dalí a ideia dos relógios derretidos.

No primeiro plano da obra, um relógio está em cima de algo que parece uma cela, mas que, na verdade, é um auto retrato. Os cílios sugerem um grande olho fechado em estado de contemplação, sono ou morte, propondo que apenas a superação das limitações impostas pelo tempo da terra pode soltar as rédeas da consciência.

Já o litoral vazio, ao fundo, segundo o próprio artista, representa melancolia. As únicas criaturas vivas da obra são as formigas, que rastejam pela parte de trás do relógio laranja e uma mosca, ambas em primeiro plano. Para quem não sabe, Dalí odiava formigas e as incluiu em diversas composições como símbolo de putrefação.

3- René Magritte

As imagens extravagantes pintadas por René Magritte não são resultado de sonhos nem de estados psicológicos autoinduzidos. Ao contrário, são produtos da sua contemplação e questionamento em relação aos fenômenos da vida diária. Ele acreditava que o pensamento consciente que conduz uma ideia e a ideia é o que importa na pintura, e ainda dizia que o púbico deveria prestar bastante atenção na realidade retratada, para desvendar dentro de si seus enigmas ocultos.

Sua obra No limiar da liberdade contém vários temas essenciais ao seu trabalho: os espaços vazios e uma sensação de calma estagnada; as pinturas dentro de uma outra pintura e o posicionamento dos objetos fora de seu contexto normal, fazendo-os assumir uma importância real.

Na obra há oito painéis de parede do mesmo tamanho retratando uma floresta, um céu com nuvens, a fachada de uma casa, filigranas de papel, um torso feminino, fibras de madeira, sinos e fogo.

É interessante notar que a sala está vazia, a não ser por um objeto, a peça de artilharia. A arma está apontada para o torso, enfatizando suas associações fálicas. Sua presença sugere que, para Magritte, a possibilidade de cruzar o limiar da liberdade pode ser dificultada por um intruso.

4- Pablo Picasso

Embora Picasso não fizesse parte oficial do movimento surrealista, suas obras estão repletas de evidências dessa influência. Pintou uma de suas obras mais famosas, Guernica, como um ataque apaixonado ao governo fascista espanhol. O quadro tornou-se um símbolo universal das atrocidades da guerra.

O poder deve-se à mistura de elementos épicos e formas abstratas, além da decisão de negar as cores na tela, que juntos transmitem um poderoso senso de credibilidade jornalística.

Picasso expressa sua revolta e agonia por meio do uso de imagens violentas, como o minotauro e os touros espanhóis, que representam metade homem e metade humano, referindo-se à luta entre o homem e a barbárie. A figura do touro com olhos de um homem está colocada sobre uma mulher que chora pela criança morta que carrega nos braços.

Já a lâmpada foi colocada dentro de uma forma amendoada que figura um olho maligno irradiando luz no cavalo, que é o ponto central da obra. Essa imagem representa tanto o sol espanhol quanto o ambiente impiedoso de uma sala de torturas em tempos de guerra.

A figura central de um cavalo (que representa a morte, de maneira subliminar, assemelhando as narinas e os dentes à uma caveira humana) pisoteando uma mulher que sofre sugere que os ditadores da Europa daquela época - Hitler e Mussolini - estavam fora de controle.

As figuras são apavorantes e distorcidas. Assim, combinou elementos surrealistas com suas inovações cubistas para produzir uma evocação do sofrimento.

5- Joan Miró

Joan Miró foi um artista catalão que incorporou elementos do acaso a sua pintura. Sua arte é mais alucinatória que onírica, trazendo as marcas das visões que experimentou em épocas de extrema pobreza e fome. Suas complexas paisagens são habitadas por estranhos seres feitos de hastes e amebas. As cores fortes, formas fantásticas, geométricas e objetos reconhecíveis marginalmente também são típicas de seu estilo.

Hirondelle Amour é uma de quatro pinturas preparatórias para tapeçarias produzidas durante o período que marcou seu retorno à pintura, após trabalhar em colagens e criações baseadas em obras primas holandesas.

A obra Números e constelações em amor com uma mulher é sua mais conhecida. Pintada a aquarelas e gouaches sobre o papel, reflete, além de um sentimento amoroso e envolvente, a simplicidade adquirida pela arte e design durante e após a guerra, já que na época em que foi pintada, decorria a Segunda Guerra Mundial.

Por Nathália Tourais

Atualizado em 27 Mar 2015.