Teatro
Por Nathália Tourais

Encenada por Dan Stulbach, "Morte Acidental de um Anarquista" está em cartaz no Teatro Folha

Comédia fica em cartaz até dia 18 de dezembro.

"Morte Acidental de um Anarquista"

Se as novidades são sempre bem vindas no mundo das artes, o Teatro nos mostra, a cada dia, que os clássicos são sempre um sucesso e atemporais. Entre tantas peças, o dramaturgo Dario Fo também nos prova o fato com o espetáculo "Morte Acidental de Um Anarquista", que foi escrito em 1971 e ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 1997.

Em cartaz no Teatro Folha até dia 18 de dezembro, a temporada conta com grandes nomes, como Dan Stulbach, Marcelo Castro, Henrique Stroeter, Riba Carlovich e Maira Chasseraux e, sem dúvidas, é uma daquelas que merecem sua visita. Confira abaixo os motivos:

ATEMPORALIDADE DA ARTE


“É impressionante como 'Morte Acidental' ainda é atual, 45 anos depois de escrita. É como se ele estivesse falando dos dias hoje, principalmente no Brasil. Em chave de farsa, Dario Fo nos brinda com um texto brilhante. O que fizemos foi tirar as referências que só faziam sentido para os italianos e a realidade em que viviam nos anos setenta. A fábula, a história na nossa montagem está intacta. O próprio Fo, a cada remontagem da peça, fazia modificações.” diz Hugo Coelho, diretor da peça.

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HISTÓRIA VERÍDICA

Para quem ainda não sabe, o autor Dario Fo se inspirou em um caso verídico para escrever a peça. O caso trata-se do “suicídio” de um anarquista em Milão, em dezembro de 1969. Entretanto, o que o motivou foi o fato de que a história contada pelas autoridades foi extremamente absurda e, ainda assim, o caso foi arquivado. Porém, depois que Fo escreveu a obra, o caso foi reaberto e investigado.

No palco, podemos entrar em contato com sua engenhosidade, sua capacidade de escrever diálogos cortantes, de criar tipos diversos dentro de uma mesma peça, representados por um mesmo ator, aliado a um profundo senso cômico; que dão dimensão universal ao texto. Essa é sua peça mais conhecida, montada no mundo inteiro e recentemente, em Londres, foi encenada com referências ao caso Jean Charles.

ENREDO E PERSONAGEM FICTÍCIO

Um louco cuja doença é interpretar pessoas reais é detido por falsa identidade. Na delegacia, se passa por um falso juiz na investigação do misterioso caso do anarquista. A polícia afirma que ele teria se jogado pela janela do quarto andar. A imprensa e a população acreditam que foi jogado. O que teria acontecido realmente? O louco vai enganando um a um, assume várias identidades e, brincando com o que é ou não é real, desmonta o poder e acaba descobrindo a verdade.

O personagem do Louco (Dan Stulbach) representa um juiz como ponto alto de sua "carreira", pois já se passou por médico cirurgião, psiquiatra, bispo e engenheiro naval, entre outros. Na delegacia, preso pelo Comissário (Marcelo Castro) encontra os responsáveis pela investigação, o Delegado (Henrique Stroeter) e o Secretário de Segurança (Riba Carlovich). Depois a imprensa aparece, através da Jornalista (Maira Chasseraux). Todos, menos o Louco, foram inspirados em personagens reais.

E, para quem se pergunta, o papel do louco foi inserido, com maestria, para dar sentido à versão absurda contada pelas autoridades e, assim, fazer uma crítica cômica de uma situação trágica.

BATE PAPO COM A PLATEIA

Se algumas peças mantêm o público extremamente distante do que acontece no palco e dos atores que nele estão, "Morte Acidental" é deliciosamente o oposto disso. Minutos antes de iniciar, o elenco recebe sua plateia na porta tocando instrumentos e, ao chegarem na sala, iniciam um bate papo informal sobre tudo o que envolve a obra.

Assim, localizam-nos historicamente sobre os fatos verídicos, falam sobre a criação da peça, de Dario Fo, do momento sociocultural que a Itália vivia quando o suposto suicídio aconteceu e nos convidam a construir um olhar sobre tudo isso junto com cada um deles.

ESPONTANEIDADE E REFERÊNCIAS



Ao longo do espetáculo, que provoca risadas espontâneas e deliciosas dos atores - o que nos faz ficar ainda mais a vontade com o que vemos - as cenas são repletas de referências brasileiras e uma delas, meio a descontração em que se encontra, nos faz congelar os olhos e arrepiar da cabeça aos pés. Enquanto os atores cantam e dançam, Dan Stulbach sobe em um banquinho e inicia algo que nos soa como uma poesia arrebatadora, "Viva a arte, viva o teatro, viva Cacilda Becker, viva a poesia..." ... Arrepiou só de ler? Então vá correndo assistir!

SERVIÇO

LOCAL: Teatro Folha
TEMPORADA: Até dia 18 de dezembro de 2016. Sexta às 21h30 | Sábado às 20h e 22h30 | Domingo às 20h
PREÇO: Sexta: R$ 40 (setor 2) e R$ 60 (setor 1). Sábados e Domingos: R$ 50 (setor 2) e R$ 70 (setor 1)

Por Nathália Tourais

Atualizado em 7 Out 2016.