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Por Redação Guia da Semana

Oração à prova

No primeiro show nacional, a Banda Mais Bonita mostra qualidade sonora além da fofura do web-hit que os catapultou ao sucesso, e destaca novas formas de produzir música através da rede.

Foto: Bruno Cesar Dias

O quinteto no palco do Studio SP, na sua sexta apresentação

Como um rastilho de pólvora desses da Internet, eles pautaram o cenário cultural em menos de um mês. Foram chamados de ripongas de comercial de margarina, sensação das redes sociais, geraram as paródias mais diversas e engraçadas e ganharam espaço na mídia nacional e internacional. Até bullying eles sofreram. Mas com leveza, diversão e boa música, saciaram a expectativa do público em sua primeira apresentação nacional - a sexta da carreira. Quer queiram ou não, a Banda mais Bonita da Cidade mostrou que tem muito mais a tirar de sua cartola musical do que uma simples oração.

O Studio SP foi o palco dessa prova de fogo, acontecido na fria noite de terça-feira, 7 de junho. A expectativa formava uma fila de dobrar um quarteirão da Rua Augusta, misturando familiares, amigos vindos de Curitiba, (poucos) antigos e recém-conquistados fãs e alguns desavisados que ainda procuravam ingressos, cuja troca por agasalhos encerrara ainda durante a tarde. Quando o DJ da casa encerrou o set musical, expressões entre a surpresa e o susto saltaram dos rostos de Uyara Torrente (vocal), Vinícius Nisi (teclado/ violão), Rodrigo Lemos (guitarra), Diego Plaça (baixo) e Luís Bourscheidt (bateria), transparecendo o peso da responsabilidade

Curitiba colaborativa

E o que a Banda mais bonita da cidade tem? O quinteto engoliu a tensão e a energia do momento e iniciou a apresentação com Elevador, música que se vale da expressão vocal e cênica de Uyara Torrente e da rica sonoridade tirada pelos músicos, incluindo os instrumentos "fofos", um pianinho de Nisi e uma sanfoninha empunhada por Diego Perin, também curitibano e músico da Banda Gentileza e chamado ao palco para uma participação. Engataram quatro músicas para a cantora abrir os olhos e agradecer a presença do público.

Os versos e sons entoados e cantados pelos curitibanos falam de vida, cotidiano, amor e todo o universo que ouvimos e conhecemos das bandas nacionais do dito rock jovem alternativo: uma noite de namorados com cerveja, pizza e um bebê, num ritmado rock-ska em Mercadorama, jogos de linguagens e sentidos em Lobotomia; uma engraçada relação passada num cemitério em Romance de uma Caveira, a dor velada na sussurrada Nunca e uma pegada entre o heavy metal e o gótico em Ótima e Oxigênio. Ao final, a nostalgia de algo que não se sabe, mas se sente retorna em Canção para não voltar, que contou com Leo Fressato, cantor e compositor dessa música e de Oração, que subiu ao palco e fechou junto com os amigos a apresentação, com direito a confete e serpentina, envolvendo o público e reproduzindo o clima fofo e festivo do tão comentado e parodiado vídeo-clipe em plano sequência.

Numa avaliação crítica, houve momentos em que a extensão vocal de Uyara Torrente ficou abafada pela altura dos instrumentos e um ou outro compasso desandou, derrapadas entendíveis para um jovem grupo em sua sexta apresentação profissional.

Mas, então por que acreditar que o quinteto não será só mais uma banda de um sucesso só? O universo da jovem música alternativa ganha com a entrada da cena curitibana, assim como aconteceu na década de 90 com o surgimento dos mineiros capitaneados por Skank e Pato Fu, e principalmente, com a cena do Nordeste, que lançou o mangue beat de Chico Science, Nação Zumbi, Mundo Livre S.A para o mundo.

Além da qualidade musical apresentada no palco, a Banda acredita no cenário amplificado e colaborativo das redes sociais que lhe trouxe à crista da onda. Para a produção do álbum, lançaram as faixas-demo no site de projetos colaborativos Catarse. A iniciativa, seminal nas terras brasileiras, já é largamente utilizada na Europa e EUA. Os doadores fazem suas contribuições para cada faixa apresentada. A cada R$ 25, o doador ganha um álbum com a finalização do projeto. Se não rolar, o dinheiro é devolvido.

"É uma maneira honesta de saber o que as pessoas querem, para a gente avaliar quais pegaram, quais não, e de manter nossa proposta de criação coletiva", explica o tecladista Vinícius Nisi. Já são R$ 10 mil doados pelos fãs e Oração já está garantida no álbum. Mas será que o público vai querer somente a sonoridade "fofa" da canção? "A gente quer transmitir tanto as emoções felizes expressas em Oração como também as tristes, que trabalhamos em outras músicas. Não queremos virar uma banda de festinha, somente com coisas doces, pois isso enjoa. Queremos passar a nossa verdade pela música", completa o músico.

Foto: Bruno Cesar Dias

Rodrigo Lemos, Uyara Torrente e Leo Frescatto

Confira cinco perguntas para Vinícius Nisi, tecladista da Banda mais Bonita da Cidade

Guia da Semana: Como vocês vêem a cena jovem dos "novos curitibanos" no cenário nacional?
Vinícius Nisi: Além de nós, há outras bandas na estrada, como Universo em verso livre, Banda Gentileza, Sabonetes, Wandula. A gente troca muito entre nós, tocamos projetos em paralelo, como a banda Lemoskine (formada por Nisi , pelo baterista Luís Bourscheidt e outros músicos). É uma referência para trabalhar, com muito som acústico e novos compositores. Mas não há uma unidade, e sim uma variedade muito grande de coisas acontecendo.

Guia da Semana: Onde acontece essa cena na capital do Paraná?
Vinícius Nisi: Principalmente nos bares da região do [bairro] São Francisco, como o Wonka Bar, Blues Veltet e outros tantos que tocam música ao vivo e apresentam essa diversidade. Tem também o Torto [Bar], que não toca música, mas é de esquina, e todos se encontram.

Guia da Semana: Apesar da fama roqueira de Curitiba, há muito não surgia algo tão forte como vocês. E vocês vão tocar numa casa [Studio SP] que hoje é o palco de lançamento nacional de muitas cenas regionais, principalmente de bandas que vem de Recife e Fortaleza. Como vocês avaliam a diversidade nacional na música jovem atual?

Vinícius Nisi: O eixo Rio-São Paulo concentra esse consumo musical, por isso muitas bandas vem para cá. No sul acontece muita coisa, mas a imprensa e a crítica nacional pouco noticiam. Tudo isso está mudando, estão começando a olhar para lá e garimpar o que está nascendo. E mesmo a força da cena do Nordeste é recente, com o impulso dado pelo mangue beat de Chico Science. Acredito que em Curitiba pode acontecer a mesma coisa.

Guia da Semana: A banda sofreu bullying por conta do sucesso?
Vinícius Nisi: Hahaha. Se a gente tivesse quinze anos, até poderíamos falar que sofremos, seria muito engraçado. Mas, como já somos grandinhos, a gente riu muito junto de todas as paródias.

Guia da Semana: E toda a falação em torno de vocês assusta ou motiva a ir em frente?
Vinícius Nisi: No primeiro momento, assustou bastante. No dia seguinte a gente não sabia se ria ou se chorava, pensei até em ficar em casa embaixo do coberta, parado (risos), pois no início parecia que não havia nada além de Oração e que acabaria instantaneamente e ninguém iria mais ligar, uma coisa muito estranha. Por causa das paródias que comecei a perceber que o retorno já era maior do que receptividade, de apenas a receptividade de te assistirem. As pessoas realmente começaram a se envolver, uma coisa maior, e que é bem próxima a nossa proposta. Agora, estamos motivados em criar novos jeitos de fazer e divulgar nossa música.

Próximas apresentações:


Rio de Janeiro: 12 de junho, às 21h Teatro Rival
São Paulo: 16 de junho, às 22h, novamente no Studio SP
Belo Horizonte: 17 de junho, às 22h, no Studio Bar

Atualizado em 6 Set 2011.