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Por Redação Guia da Semana

Sem pudores

Especialista na arte de seduzir, Dorival Coutinho lança a Bíblia do sexo e bate um papo exclusivo com o Guia da Semana.

Gabriel Oliveira

Ele é produtor, diretor, ator e roteirista. Fez alguns "daqueles filmes" da década de 70, pelos quais ficou conhecido como o O Príncipe da Pornochanchada. Esse é Dorival Coutinho, um apaixonado pelo sexo, que passou mais de 20 anos estudando o comportamento do brasileiro na cama.

Em 1996, fundou a Escola do Sexo. No início, a idéia era dar um curso de formação para atores de filmes eróticos. Com o tempo, percebeu que deveria ir mais a fundo. Hoje, o grande objetivo é reeducar a mentalidade de quem ainda sente algum bloqueio na hora de sentir prazer. É com esse currículo que Dorival lançou o livro A Bíblia do Sexo, um guia que nasceu das apostilas de suas aulas. Confira aqui as dicas desse guru do amor e apimente a sua performance entre quatro paredes.

Guia da Semana: Fale um pouco sobre A Bíblia do Sexo Sagrado - Ciência da Vida?
Dorival Coutinho: Esse livro é um conjunto de estudo e pesquisas feitas há mais de 20 anos sobre sexualidade, religiosidade e a vida material das pessoas. O foco central são esses assuntos na nova era, ou seja, traz a consagração da sexualidade, não no sentido da pureza, do santo. O santo é castrativo, incompreensível. O divino não, ele é o contrário. Qualquer um se torna divino, até na cama.

Guia da Semana: Por que a escolha desse tema?
Dorival: Porque nós vivemos no maior país católico e agora evangélico do mundo. Durante os meus estudos detectei que maior conflito do ser humano está entre o santo e a libido. O conceito do santo é uma problemática no cotidiano, as pessoas não conseguem liberar a sua sexualidade, de forma espontânea, sem a culpa, sem o medo. Quanto mais conceitos religiosos existem no seio familiar, mais bloqueada é a pessoa. Nos relacionamentos amorosos, muitas vezes a religião acaba separando os casais, jogando um contra o outro, por causa das divergências religiosas. O próprio Cristo falou: "Amai a Deus sobre todas as coisas". Aí o cara ama mais a religião do que a família, a esposa, que a sua própria sexualidade.

Guia da Semana: Então a religião atrapalha o sexo?
Dorival: A religião atrapalha o desempenho sexual.

Guia da Semana: Os brasileiros ainda acham que o sexo é uma coisa errada?
Dorival: Sexo é pecado. Sexo é sujo. Na nossa cultura sexo ficou associado às doenças, drogas, ao lado mais obscuro da vida, ao pecado mortal, que nem o diabo perdoa. É uma coisa muito séria no inconsciente coletivo, é muito complicado isso. Está lá enraizado, as vezes, é imperceptível. O meu conselho é mudar de crença, não de fé. Quem é católico no Brasil não pode fazer sexo o ano todo, porque o ano todo é dia santo.

Guia da Semana: Qual é a diferença entre sexo e prazer?
Dorival: Um ponto disso é que tiraram o prazer do sexo, deixaram só para procriação e de tudo o que você tira o prazer, você tira o sentido. Nada simboliza mais a vida do sexo, estamos sob esta luz por causa do sexo, somos todos espermatozóides ambulantes. A religião, em nome da espiritualidade, acaba ferrando o psíquico.

Guia da Semana: Por quê então o título A Bíblia do Sexo Sagrado?
Dorival: É uma bíblia mesmo. É uma reunião de livros, de filosofias e pensamentos, um mergulho no eu das pessoas, porque o problema está no íntimo. O mundo interior das pessoas é o de pensamentos, sentimentos e emoções. Então quando o Cristianismo fala que a carne é fraca, na verdade a carne é forte e igual para todos. O que é fraco é o espírito. O nervosismo é uma fraqueza emocional, filho da ansiedade. E o nervosismo não combina com sexualidade.As pessoas não precisam aprender fazer sexo, porque sexo da maneira que se faz está no instinto animal. Agora como se relacionar com tudo isso, sem sofrer, sem dramatizar, é outra coisa. A gente vive com muito drama e para amar não tem drama. Nós sofremos a síndrome da Maria Madalena arrependida.

Gabriel Oliveira
Capa do livro A Bíblia do sexo

Guia da Semana: Quem sofre mais com isso? O homem ou a mulher?
Dorival: Ambos. Mas na verdade, acaba rolando uma competição entre os dois na cama. Homem confunde muito ejaculação com prazer. Não tem como competir com a mulher. Enquanto a mulher pode ter dez orgasmos, o homem tem um. O homem tem uma descarga elétrica muito forte, não apenas nas genitálias, mas no corpo todo. Tanto é que depois do orgasmo, o corpo todo se sente relaxado. Os homens precisam de um tempo para recuperar os hormônios, a testosterona. Fora a libido dele, muitos acham que só as mulheres são frigidas, mas isso acontece com o homem também.

Guia da Semana: E como é a frigidez de um homem?
Dorival: É o medo de amar, medo da vida. A maioria quer ser amado, mas tem medo de amar, isso gera um outro conflito. Se eu só quero ser amado, eu vou morrer mendigo do amor, porque é egocentrismo. O correto é apenas amar, em vez de ficar querendo juntar migalhas de amor. Atrás dessa frustração, vem o sentimento de angústia.

Guia da Semana: Qual a importância do sexo na vida de um casal?
Dorival: É tudo de bom, porque é o sexo que une, que aproxima. O amor sem tesão, eu não entendo. No casamento quando você encontra uma pessoa que está numa bifurcação sexual, os dois devem pegar o mesmo caminho. Mas nem sempre acontece isso, e uma a distância se instala entre os dois. Essa distância não é física, mas espiritual, porque fisicamente eles estão juntos, mas espiritualmente estão longe. O que causa essa distância é a diferença.

Guia da Semana: E como reacender o tesão?
Dorival: Tem que reacender a capacidade de fantasiar. Tudo surge no mundo da imaginação. Mas é bom tomar cuidado com a fantasia, como se a criatura voltasse contra o criador. É preciso fazer uma reeducação sexual.

Gabriel Oliveira
Alguns dos filmes que Dorival Coutinho participou na década de 70

Guia da Semana: Existe algum pré-requisito para o casal se dar bem na cama?
Dorival: Criatividade. E aquela coisa do Kama Sutra, que os hindus tem, que é curtir o sexo, preparar o ambiente. A mulher que é versátil pratica a dança, sabe arrumar o quarto, se perfumar, criar o clima... Hoje nem nos filmes pornôs os caras sabem criar um clima. Vai direto para o sexo. Isso é completamente anti-tesão. É mais gostoso você ver uma mulher lamber os lábios, cruzar as pernas e trocar olhares. O casal para ter uma relação saudável. O matrimônio foi instituído como uma forma de propriedade. É o "meu marido", "a minha mulher", e na verdade, ninguém é de ninguém. Ninguém é obrigado ir pra cama com ninguém. Fazer sexo por obrigação é a pior coisa que tem.

Guia da Semana: Você é a favor da fidelidade?
Dorival: Sou a favor da fidelidade, primeiramente, a si mesmo, ou seja, sou fiel à minha natureza. Se você tem uma natureza e seu companheiro não tem essa natureza por uma razão ou outra, o erro está na escolha. As pessoas não buscam o sexo pelo sexo, elas estão em busca do amor e do prazer. É o amor próprio. Se a pessoa não tem amor próprio, como vai amar o outro? Eu tenho que me amar muito para poder dar amor pro outro.

Guia da Semana: Para uma boa relação sexual é necessário existir sentimento? Ou sexo pelo sexo pode ser bom?
Dorival: São pouquíssimas as pessoas que conseguem isso. Ficar com todo mundo, todo mundo quer. Mas se isso não afetasse o mundo mental, emocional e sentimental seria muito simples.

Guia da Semana: Teria algumas dicas para quem quer sair do marasmo?
Dorival: Não tem nada mais broxante e angustiante do que a mesmice. Ir ao motel de vez em quando, usar uma lingerie, um perfume, um strip-tease. Tem que ousar. A mulher tem surpreender o homem.

Atualizado em 6 Set 2011.