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Por Redação Guia da Semana

Seleção nacional só no estrangeiro

Manter jogadores de futebol em território nacional esta cada vez mais caro.

Foto: Sxc.Hu


Todo mundo sabe que os times brasileiros têm cada vez menos capacidade de manter os melhores talentos tupiniquins. A partir da década de 80, toda vez que mostram a lista de convocados para defender as cores do país, 60% a 100% atuam no futebol europeu. Nos últimos anos, o carimbo no passaporte passou a ser cada vez mais prematuro e clubes da Itália e da Espanha já mantém escolinhas de futebol em solo brasileiro. Mas sempre se pode ir além.


Desde 2005, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) resolveu que poderia obter uma nova fonte de receitas. A produção de material esportivo - camisetas, calções, meias e roupas de treino - e a venda de cotas de "patrocínio oficial" são estratégias muito convencionais; qualquer federaçãozinha pode tentar ir por aí. Agora, terceirizar a realização de partidas amistosas é a inovação.


Todos os detalhes da organização desses verdadeiros eventos foram repassados à Kentaro Group, uma empresa suíça de eventos esportivos. Até 2010, ela será responsável por todos os amistosos da seleção. Isso explica por que o escrete canarinho jogou contra Itália em Londres, no dia 10 de fevereiro.


Na prática, desde os 3 a 0 do longínquo abril de 2005, diante da inexpressiva Guatemala, no Pacaembu, foram 25 amistosos. Apenas um em território brasileiro (contra Portugal, em novembro). Todos os outros foram na Europa, nos Estados Unidos ou no Oriente Médio. Tudo para levantar um troquinho.


Além disso, a empresa chegou a alegar que o custo para reunir os atletas brasileiros é menor caso as partidas aconteçam na Europa. Como a turma joga por lá, é só pagar uma ponte aérea...


O cenário leva jornalistas esportivos aos nervos. Foi o caso de Juarez Soares, veterano da TV e do rádio que concedeu entrevista à Rádio-Agência NP, que considera "esdrúxula" a operação. "Agora a grande questão, é na medida em que o governo poderia intervir neste processo. Aí vem a velha desculpa de que a CBF é uma entidade privada e não pode sofrer interferência do governo, mas na hora de fazer a Copa do Mundo, ela [CBF] pede dinheiro para o governo", disse na ocasião.

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Antes que alguém pergunte, naquele mesmo ano de 2005, a Kentaro fez o mesmo tipo de acordo com a federação argentina de futebol, a AFA. Nos cinco anos anteriores, uma empresa russa era quem fazia o agenciamento.


Resultado

Muitos torcedores fanáticos por futebol, devido a raridade de jogos no país e a dificuldade de conseguir ingressos, nunca puderam prestigiar partidas da seleção nas arquibancadas.


Como nós, torcedores, continuamos sem voto nem voz na CBF, sobra tentar uma passagem para o exterior para prestigiar os craques brazucas. Será que alguma empresa de turismo vai começar a vender pacotes para assistir a seleção?


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Quem é o colunista: Anselmo Massad é palmeirense e jornalista.

O que faz: Um dos fundadores do Futepoca.

Pecado gastronômico: Cachaça Velha Motinha, pra só citar uma.

Melhor lugar do Brasil: A Mesa de Bar, com conversa animada.

Time de Futebol: Palmeiras.

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Atualizado em 6 Set 2011.