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Por Redação Guia da Semana

Por trás dos boleiros

Os agentes de jogadores de futebol, antigamente chamados de procuradores, estão cada vez mais em evidência no mundo da bola.

Fotos: www.sxc.hu

O Brasil é conhecido como país do futebol. Cada vez mais os jogadores são vendidos a clubes do exterior. A cada mês, surgem notícias de jogadores que vão para clubes periféricos da Europa ou tentam a vida em países como Coréia, China, Qatar, Emirados Árabes e outros mercados alternativos do futebol. Mas o que há por trás de tantas transferências? Nos últimos anos, surgiu uma nova figura no futebol brasileiro e mundial: o empresário de jogador.

Se você quiser ser um deles e ganhar milhões em um só dia, preste atenção. Aposte e dê assistência a um jogador jovem, produza vídeos de suas principais jogadas e mande os DVDs para grandes clubes analisarem ou coloque os dribles e gols na internet. O jogador pode conseguir um teste para atuar nas divisões de base ou nos times inferiores da equipe. Crescendo, ele pode estourar, cair na boca do povo e o mundo inteiro verá. Aí, torça para um clube europeu se interessar na compra do passe. Em apenas um dia, pode-se ganhar milhões. O empresário abocanha 10% do valor total da transferência.

Porém, somente a idéia é simples. Nem todos os empresários têm essa sorte. O fato de o jogador ser brasileiro já é um ótimo cartão de visitas no exterior, apesar de a fama fora das quatro linhas não ser das melhores. Ajudar o atleta a não se perder no meio do caminho e ter confiança nele é o mais importante para o agente não prejudicar a imagem de ambos no clube.

- O conhecimento tanto dos clubes quanto do jogador (quem é ele, como homem e como atleta) é importante, pois você ficará responsável por aquela contratação até o término do contrato. E se aquele "boleiro" gosta de farras, é desobediente, sai à noite, fuma, bebe, etc., coloca você muito mal com aquele contato. Aí o tiro sai pela culatra - disse Roberto Queiroz de Andrade, agente Fifa de jogadores como Roger, Fábio Júnior, Fernandão, Afonso Alves, Josué, Martinez, entre outros.

Muitas vezes os clubes reclamam que os empresários pegam muito dinheiro nas transferências e empobrecem o futebol brasileiro. Entretanto, os agentes podem ajudar os clubes a desenvolverem as categorias de base. No Brasil, os contratos entre jogador e clube podem ser assinados a partir dos 16 anos. Antes dos 18 anos, os agentes só podem prestar serviços a jogadores com autorização dos pais, e a Fifa já se mostrou contrária a transferências internacionais no caso de menores, mesmo que os clubes dêem emprego aos pais.

- O bom agente trabalha para fortalecer todas as estruturas do futebol. Futebol depende de clube, jogador e agente. Temos de ser profissionais, respeitar o sistema. Não adianta nada defraudar o clube. Sempre auxilio os jogadores a não deixarem o clube que o revelou sem nada. O clube investe muitas vezes mais de seis anos para desenvolver um jogador - falou James Arruda, agente Fifa que já prestou serviço para Marcelinho Carioca.

O contrato entre jogador e agente tem duração máxima de dois anos, e nele está acordado se o agente recebe dinheiro mensalmente do jogador ou receberá somente os 10% na hora da transferência. Muitas críticas são feitas a agentes que arrumam clubes e não dão assistência ao jogador na hora da necessidade.

- Tudo o que ocorre com o atleta no clube, como falta de pagamento, falta de cumprimento nos registros da Lei Laboral, Direitos de Imagem quebrados, não cumprimento das promessas e itens do contrato, como seguro doença, passagens, etc., são resolvidos pelos agentes. Ou seja, não é somente arranjar o clube, receber o dinheiro e deixar o jogador entregue às moscas, como muitos estão dando a entender. Hoje os agentes são a "bola da vez" - disse Andrade.

A última transação milionária envolvendo um jogador brasileiro aconteceu no mês passado. O atacante Alexandre Pato foi vendido pelo Internacional ao Milan por US$ 20 milhões (cerca de R$ 38 milhões). Desse valor, Gilmar Veloz, agente do atleta, levou US$ 2 milhões na venda. Mesmo assim, não é sempre que os agentes preferem ganhar muito dinheiro de uma vez só. Para conseguir a liberação do santista Robinho para o Real Madrid, em 2005, tanto o empresário Wagner Ribeiro quanto o jogador abriram mão de suas partes. O time espanhol deveria pagar US$ 50 milhões contando a parte dos dois, mas pagou apenas os US$ 30 milhões a que o Santos tinha direito.

Mas qual é a principal qualidade dos agentes de futebol? Além de ser um bom negociador e ter uma rede de contatos no meio, é preciso estudar muito.

- Exige um conjunto de conhecimentos. Se quiser trabalhar com transferências internacionais, o domínio de idiomas faz diferença. É preciso também muito conhecimento jurídico, pois você trabalha com contratos a todo momento. É importante em qualquer negócio uma rede de contatos, é uma condição básica, aliada à credibilidade - afirmou Arruda.

Agente Fifa

Desde dezembro de 2000, vendo a crescente demanda de empresários em todo o mundo, a Fifa, entidade máxima que regula o futebol mundial, criou uma prova para credenciamento de empresários, os "Agentes Fifa", únicos autorizados a representarem jogadores em transferências. Apenas pais, irmãos ou cônjuges do atleta não precisam de licença e podem representá-lo em qualquer transação. Para transferências nacionais, também podem operar sem credencial os advogados devidamente registrados na OAB.

A prova consiste em 20 questões de múltipla escolha, sendo 15 da Fifa, em espanhol, e cinco da CBF, em português. As perguntas da Fifa valem ao todo 30 pontos e as da CBF, dez. Com 26 pontos, ou seja, 66%, o candidato está aprovado. Os assuntos abordados são Estatuto da Fifa, regulamento sobre transferência de jogadores, noções de direito civil e do trabalho pertinentes a contratos e Código Brasileiro de Justiça Desportiva, entre outros. É necessário ter pelo menos o segundo grau completo.

- Estudei por minha conta e passei, mas o nível de conhecimento exigido é grande. Há muitas questões de direito civil da Europa - disse Arruda, que já era procurador de jogadores antes de o Agente Fifa ser instituído.

- Tenho uma formação acadêmica de Direito que ajudou bastante. O exame é complicado, pois aqui no Brasil temos ainda certas coisas que não são seguidas. Isso atrapalha bastante o entendimento e interpretações das Leis e Diretrizes que regem este assunto, vindas da Suíça, um país que tem um dos melhores níveis de vida do planeta - afirmou Andrade.

Mas ser um empresário legalizado de jogador de futebol precisa de um bom investimento. Para realizar o exame na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), feito em março e setembro, a inscrição é R$ 1 mil. Em caso de aprovação, o empresário tem 12 meses para se credenciar e dar mais R$ 5 mil para tirar a carteira. Além disso, não é permitido vínculo algum com entidades referentes ao futebol, como ligas, clubes e federações.

Há cursos para quem quer ser um Agente Fifa, tanto a distância como presenciais. Normalmente as inscrições abrem um mês antes dos exames. Os cursos estão na faixa de R$ 900 a R$ 1 mil.

No Brasil, há falta de fiscalização para os empresários de futebol. Hoje, existem 180 Agentes Fifa registrados no país. É pouco se comparado a outros grandes centros de futebol, como Espanha (424), Itália (430) e Inglaterra (312). O jogador que for agenciado por alguém ilegal pode sofrer punições duras, assim como os clubes que negociarem com alguém que não seja Agente Fifa.

Atualizado em 6 Set 2011.