Cinema
Por Juliana Varella

Sétimo: suspense com Ricardo Darín não convence

Longa argentino conta história de um pai que perde os filhos dentro do prédio onde moram.

Ricardo Darín interpreta Sebastián, um homem que perde os filhos dentro do prédio (Divulgação)

Certos suspenses deixam o espectador de unhas grudadas na poltrona, temendo pelo protagonista e aguardando com ansiedade aquela revelação surpreendente perto do final. Outros, como o argentino “Sétimo”, de Patxi Amezcua, perdem o interesse do público nos primeiros quinze minutos.

O filme, com Ricardo Darín, começa bem. Sem enrolar, mostra em poucos segundos quem é seu protagonista: um advogado, daqueles que costumam defender criminosos de alto escalão, que nem assinou o divórcio e já paquera a secretária e que tem desavenças com vários de seus vizinhos de prédio.

Sebastián (Darín) tem seus defeitos e dá valor demais ao trabalho, mas é um pai presente e responsável. Este é seu dia de levar as crianças à escola e, como sempre faz, deixa os filhos descerem correndo pela escadaria enquanto ele pega o elevador, apostando para ver quem chega primeiro no térreo. Desta vez, porém, Sebastián chega sozinho.

As crianças desaparecem silenciosamente e ninguém no prédio sabe de nada. O que seria um mistério instigante ganha contornos absurdos quando o pai começa a agir, colocando-se no papel de um justiceiro que invade casas e ameaça pessoas, sem obter nada útil além de promessas de inocência.

A reação do protagonista poderia ser coerente com o desespero de um pai, mas o que a câmera tenta passar não é a imagem de um homem destruído, mas sim a de um herói – uma espécie de Nicolas Cage ou Liam Neeson de Buenos Aires, sem os tiroteios e sem um supervilão mafioso por trás dos sequestros. Sebastián tem os contatos e a aparente imunidade de um agente secreto, mas não tem nem de longe o know how para não se fazer de bobo.

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A essa altura, o público já percebeu quem é o sequestrador e sente pena da ingenuidade daquele homem. O que também incomoda é a passividade da polícia, que não organiza nenhum tipo de interrogatório nem parece pensar em vistoriar o prédio. Essa escolha pode ser proposital – eles estariam envolvidos no crime, coisa que não é muito bem explorada na tela – como pode ser apenas outra forma de elevar o herói, colocando-o sozinho na missão.

Se o roteiro não consegue provocar a dúvida ou o interesse, tampouco são convincentes os coadjuvantes, que oscilam entre o excesso e a ausência total de emoções. O público nunca fica sabendo de suas motivações mais profundas e não se identifica com ninguém, achando pouco provável que as coisas de fato pudessem acontecer daquela forma.

“Sétimo” teve a sorte de contar com um nome tão forte quanto Ricardo Darín para a divulgação no mercado internacional, mas seu suspense não faz jus a outras pérolas argentinas do gênero, como “O Segredo dos Seus Olhos”. O filme tem apelo para funcionar na televisão, mas sua passagem pelos cinemas deverá ser curta.

Por Juliana Varella

Atualizado em 14 Nov 2014.