Num momento em que o cinema nacional vem se expandindo e abraçando novos gêneros, Julia Rezende apresenta seu singelo romance do cotidiano, “Ponte Aérea”. Focado numa classe média Rio-São Paulo, o filme aposta numa linguagem natural, sem excessos ou afetações, emoldurada por uma fotografia limpa e delicada.
Bruno e Amanda, interpretados por Caio Blat e Letícia Colin, são como uma versão moderna de Eduardo e Mônica: ele é carioca; ela, paulistana. Ele dá dois beijinhos; ela vai de calabresa sem queijo. Ele vive de chinelo; ela de salto alto. Os dois são criativos, pois é preciso que tenham algo em comum - mas ele faz sua arte no quintal; ela, no escritório.
A dupla se conhece durante um desvio de rota de um avião que vem do Rio para São Paulo. Obrigados a passar a noite num hotel, eles tomam uma cerveja juntos e vão para a cama – sem compromisso. Depois, acabam se encontrando novamente em São Paulo e, depois, no Rio, até engatarem num namoro à distância cheio de idas e vindas.
O filme capta a relação dessa geração de vinte e tantos anos com o sexo com um olhar fresco e sem drama: há o do primeiro encontro, há o casual entre amigos, há o sem sentimento e o com sentimento. A diretora só mostra algo mais agressivo numa única cena, que não chega a pesar mais do que o necessário e tem uma função importante na construção emocional de um dos personagens.
O longa segue uma fórmula de comédias românticas, mesmo sem investir na comédia: o casal se conhece, tem um primeiro envolvimento, depois se afasta, se aproxima novamente, vive uma fase feliz, eventualmente se separa e passa por diversos desentendimentos até resolver ficar junto de vez – ou não.
As histórias paralelas ajudam a conduzir o romance entre Bruno e Amanda. Enquanto ele lida com o pai internado e um meio-irmão recém conhecido, que de repente o vê como figura paterna, ela se esforça para provar ao chefe que mereceu sua promoção, criando uma campanha publicitária que fuja do lugar comum.
O filme falha um pouco no ritmo, especialmente nos diálogos, mas acerta na dosagem de “piadas internas” e deve agradar a uma variedade grande de espectadores. Paulistanos e cariocas com certeza vão se divertir com as pequenas rixas entre os dois estilos de vida, publicitários vão se enxergar em algumas referências e jovens em início de carreira, em geral, encontrarão algo para se identificar com esses dois protagonistas.
“Ponte Aérea” estreia nos cinemas no dia 26 de março.