Cinema
Por Juliana Varella

“Pássaro Branco na Nevasca”: drama psicológico e o suspense se revezam em obra sobre adolescência

Shailene Woodley e Eva Green protagonizam drama de Gregg Araki.

Shailene Woodley e Eva Green interpretam filha e mãe (Divulgação)

“Justamente quando eu estava me tornando só corpo – e hormônios, e carne, e ossos, e sangue – minha mãe decidiu abandonar o dela”. “Pássaro Branco na Nevasca”, longa de Gregg Araki que estreia nesta quinta nos cinemas, começa com uma reflexão como esta, ambígua e reveladora.

Ambígua porque pode representar a loucura ou a morte, e reveladora pois mostra o ponto de vista que nos guiará pela história: o de Kat (Shailene Woodley), uma adolescente cuja principal preocupação, mesmo no meio de um furacão familiar, é ela mesma.

Kat tem 17 anos quando sua mãe (Eva Green) desaparece e é por meio dos depoimentos que ela dá à psicóloga que descobrimos os bastidores desse mistério. A primeira coisa que a garota se lembra é de que viu a mãe dormindo em sua cama com uma roupa de festa, atordoada, às vésperas do acontecido.

O retrato da mãe (e da família em geral) vai se alterando de acordo com os sentimentos de Kat, que recupera imagens e diálogos conforme a resposta que queira dar à pergunta: por quê?

Da melancólica submissão aos ataques histéricos, somos apresentados a diferentes versões de Eve (a mãe) e a uma única e plana impressão de Brock (o pai, vivido por Christopher Meloni). Além deles, surgem em tempo real (não apenas em relatos) os amigos Mickey (Mark Indelicato) e Beth (Gabourey Sidibe), o detetive Scieziesciez (Thomas Jane) e o namorado Phil (Shiloh Fernandez), que terá um papel muito mais interessante do que ousaríamos apostar.

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Woodley, por enquanto mais conhecida por sua heroína na saga “Divergente”, tem aqui a oportunidade de desenvolver uma personagem mais complexa e segura, o que faz com competência. Já Green se distancia do estereótipo “femme fatale”, que incorporara em trabalhos recentes, e brilha com toda a insanidade daquela risada característica.

O filme oscila entre o drama e o thriller, tentando se aproximar mais do segundo, mas garante sua força mesmo no primeiro. O último ato, afinal, precisaria ser muito mais bem trabalhado para que o suspense funcionasse – e a verdade é que a história se resolve de uma só vez, afobadamente.

Antes que ela se resolva, contudo, diálogos banais cheios de entrelinhas se misturam a confissões profundas desapegadas de emoção, deixando o espectador com uma pulga constante atrás da orelha – seria esta uma obra simbólica sobre o amadurecimento e o distanciamento de uma adolescente em relação seus pais, ou apenas mais uma história policial?

Provavelmente, um pouco dos dois.

Por Juliana Varella

Atualizado em 23 Abr 2015.