Cinema
Por Juliana Varella

“Invencível” mostra atleta que lutou na guerra como um herói sem defeitos

Filme dirigido por Angelina Jolie tem cenas impactantes, mas perde força ao ser previsível demais.

Jack O'Connell surpreende com sua interpretação do atleta/soldado Louis Zamperini (Divulgação)

O que nos leva a assistir ou ler uma biografia? Certamente, não é apenas a realidade dos fatos – humanos e sem brilho; mas tampouco é a fantasia pura, exaltada e inverossímil. O que instiga é o equilíbrio nebuloso entre a pessoa e o personagem, dois seres opostos amarrados numa história tão incrível que às vezes parece falsa, mas construídos com virtudes e defeitos que os fazem respirar como um só. O que falta, então, ao retrato de Louis Zamperini dirigido por Angeline Jolie para as telonas?

Invencível, baseado no livro de Laura Hillenbrand, narra a vida do imigrante italiano que começou a correr para fugir dos guardas, depois foi treinado pelo irmão até vencer as Olimpíadas, em plena Alemanha Nazista. Ainda durante a Segunda Guerra Mundial, o biografado atuou como bombardeiro no ataque ao Japão e, depois de sobreviver à deriva por 47 dias, acabou prisioneiro de guerra em Tóquio, onde antes sonhava em disputar sua segunda Olimpíada.

A história de Zamperini tem todos os altos e baixos de uma grande jornada, oferece material para uma boa discussão sobre os valores da guerra em contraste com os do esporte e ainda tem o apelativo elemento “superação”, que o público adora. O que poderia dar errado?

Apesar de o atleta/soldado ser interpretado com garra pelo ainda pouco famoso Jack O’Connell – talvez o melhor ingrediente do filme -, o Zamperini de Jolie não consegue respirar. Pintado nas telas como um super-herói, o italiano naturalizado americano não erra, não mente, não falha – exceto por culpa dos “inimigos”, os excessivamente caricaturados japoneses.

À frente do campo de concentração nipônico, onde o protagonista passa a última parte de sua longa provação, está o cantor de j-pop Takamasa “Miyavi” Ishihara, um ator jovem e cheio de estilo, mas que não consegue dar ao personagem a credibilidade que ele exige. A ausência de motivações para seu comportamento sádico fazem dele um vilão genérico, 100% mau e irreal. Quanto aos outros japoneses, falta-lhes um mínimo de humanidade para que sejam relevantes ao filme.

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É interessante notar como Jolie e Hillenbrand exploram esse universo exclusivamente masculino que é a guerra. Ao invés de glorificarem a batalha e a vitória, elas voltam seus olhares para o indivíduo e para o instinto básico de sobrevivência, desenvolvendo um personagem que se animaliza aos poucos.

O longa é visualmente impecável e não economiza nas cenas de tortura, funcionando como uma eficiente propaganda anti-guerra. Ao mesmo tempo, porém, é uma propaganda contraditória e unilateral, que não pratica no roteiro o que prega na cena inicial, quando mostra um pastor falando sobre o perdão e o respeito.

Quem procura uma história de vida inspiradora encontrará em “Invencível” a sessão perfeita e sairá satisfeito, com razão. Quem deseja saber mais sobre o verdadeiro Louis Zamperini, entretanto – o homem com carne, osso e defeitos - não encontrará mais do que um aperitivo. E dos mais clichês.

Por Juliana Varella

Atualizado em 8 Jan 2015.