No início dos anos 90, diversos jovens franceses tiveram seu primeiro contato com a música eletrônica e alguns deles encontraram nas raves a inspiração para se tornarem DJs profissionais. A saga de uma dessas duplas é narrada no longa “Eden”, de Mia Hansen-Løve, que estreia no dia 19 de março no Brasil.
Apesar do cenário propício, engana-se quem pensa que verá algo parecido com um documentário sobre o Daft Punk - dupla francesa que popularizou o gênero ao incorporar referências pop e atitudes como jamais revelar seus rostos, vestindo capacetes e apresentando-se como robôs. Os músicos até aparecem como coadjuvantes e são citados nas conversas de corredor, mas não têm influência nenhuma na história.
Tampouco espere assistir àquela tradicional trajetória de ascensão e queda do artista, impulsionada por sexo, drogas e altos decibéis. O sexo está lá, as drogas também, mas a perspectiva da diretora é tão distante e condescendente que o público não sente nenhuma tensão se formando, nem desenvolve qualquer nível de empatia com o protagonista Paul (Félix de Givry) – um personagem que representa o irmão de Mia, Sven Hansen-Løve, co-autor do roteiro.
Paul e Stan (Hugo Conzelmann) tocam um estilo chamado “garage”, que parece nascer e morrer antes que o filme chegue ao fim. A história desses músicos (que, paradoxalmente, não se consideram músicos) não é a de sucesso seguido de fracasso, nem o inverso, mas sim a da mediocridade de quem, à sombra dos excêntricos colegas mascarados, não conseguiu imprimir seu nome na memória do público.
O que poderia salvar o filme são as três namoradas de Paul (Greta Gerwig, de “Frances Ha!”, Pauline Etienne, de “A Religiosa” e Golshifteh Farahani, de “A Pedra de Paciência”), todas mulheres intrigantes e de personalidade forte. A diretora, porém, nunca permite que elas roubem a cena e insiste em mirar suas lentes no elemento menos promissor de sua história: seu protagonista. O resultado é uma história sem interesse humano, que acaba se apoiando exclusivamente no registro, sem dramas ou julgamentos, de um movimento musical bastante específico. Ou seja, para poucos.