Cinema
Por Thomas Aoki, aluno do 1º semestre do curso de jornalismo da ESPM

Cinema traz à tona a tristeza e a controvérsia da ditadura brasileira

Filmes retratam aspectos polêmicos do regime militar.

"O Dia que Durou 21 Anos" (2012), de Camilo Tavares (Reprodução)

Em 2014, mais precisamente no dia 1º de Abril, completam-se 50 anos da ditadura militar no Brasil. O período, que durou pouco mais de duas décadas, foi implantado pelas Forças Armadas, que derrubaram o governo do então presidente constitucional, João Goulart. A sociedade civil, que temia sua aproximação com os ideais esquerdistas, apoiou a ação dos militares.

A censura aos meios de comunicação e a adoção de medidas extremamente autoritárias, como a criação de Atos Institucionais, dava ao governo o controle sobre a população. O período, marcado por violações aos Direitos Humanos, tal como a violenta repressão e as inúmeras mortes, é constantemente retratado em livros, filmes e documentários.

“Trata-se de uma das páginas mais tristes da nossa história, tanto pela aniquilação dos direitos mais fundamentais dos cidadãos brasileiros como pelas inúmeras práticas violentas e assassinatos cometidos pelo Ditadura Militar em nome de uma suposta "ordem nacional”, analisa Fernando Caiafa, historiador e professor do Colégio Objetivo. O historiador realçou também a importância do cinema em abordar assuntos como esse, para que sejam relembrados e possam servir de aprendizado.

Um exemplo é o documentário “AI-5 – O dia que não existiu”, produzido em 2001. Sua história concentra-se em um episódio curioso do regime militar. O governo esperava licença por parte da Câmara dos Deputados para processar o deputado Márcio Moreira Alves, que havia se pronunciado contra o regime. No dia seguinte, foi instituído pelo então presidente Artur da Costa e Silva o Ato Institucional Nº 5, em represália ao episódio. A partir desse momento, o país conheceria os anos mais pesados de sua história, apelidados de “Anos de Chumbo”.

“É muito difícil interpretar um personagem real, ainda mais quando a pessoa ainda está viva. Foi preciso que eu adotasse um sotaque e uma voz diferentes da minha”, conta Maurício Branco, ator que representou o papel de Márcio Moreira Alves em “AI-5”. Ele relata, ainda, que no Brasil há um grande problema de distribuição de documentários em geral. As pessoas se interessam, mas as distribuidoras não, pois o lucro é pequeno.

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Adélia Sampaio, codiretora do documentário, viveu a ditadura na pele, por isso, dispensou um estudo aprofundado sobre o tema. “Tivemos acesso às cartas da plenária guardadas por uma funcionária. Não foi preciso pesquisar, eu vivi o terror deste tempo. Tive um marido preso político e sofri agressões da Polícia Militar”, lembra.

A respeito do retorno ao debate que um filme como esse traz, Adélia acredita ser expressivo por parte dos jovens universitários. “Eles se empolgam ao ouvir o que se passou neste país. Foram anos de absoluto silêncio e medo”.

Desde 2012, a Comissão da Verdade vem facilitando a produção de filmes e documentários inéditos. Novos fatos são evidenciados com maior precisão e detalhe. “Estou elaborando um roteiro, onde pretendo mostrar as dificuldades, sofrimentos e humilhações que passamos na época das visitas”, anuncia a cineasta. “Meu marido, hoje ex-marido, foi preso no MR8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro)”. Foi torturado e perdeu a audição do ouvido esquerdo. Por um ano e meio, ficou rodando de Ilha em Ilha até ser absolvido”, desabafa.

Para Fernando, a ditadura militar é um tema delicado de ser abordado. “Primeiramente é quase impossível não adotar uma posição. Além disso, muitos envolvidos em histórias obscuras do período ainda estão vivos e isso poderia criar uma situação ainda mais complicada”, completa o professor.

Por Thomas Aoki, aluno do 1º semestre do curso de jornalismo da ESPM

Atualizado em 8 Abr 2014.