Arte
Por Redação Guia da Semana

História no Jardim Europa

Casa em que viveu Ema Gordon Klabin, além de abrigar extensa coleção é, por si só, uma grande obra de arte.

Foto: Divulgação

Quando subi a escadaria daquela casa branca, sequer imaginava um terço do que me aguardava. A cidade: São Paulo. A rua: Portugal. No meio das modernas construções do MuBe e MIS, se mantém, na esquina da estreita rua arborizada do Jardim Europa, uma oponente construção com muros altos e portões de ferro luxuosos. Junto a dois museus de arte, a construção forma o conhecido triângulo artístico paulistano. Ali morou Ema Gordon Klabin, uma das maiores mecenas que o Brasil já teve.

Herdeira da maior produtora e exportadora de celulose do país, Ema estudou muitos anos na Europa. Foi lá que ela fez sua primeira aquisição: o quadro Ariadne, de Jean Baptista Greuze. A partir daí, a empresária se dedicou a formar uma vasta coleção. Esse interesse fez com que ela se envolvesse em atividades culturais brasileiras quando retornou ao país, como colaborar com a construção do Museu Lasar Segall e da Fundação Magda Tagliaferro. Algumas das conquistas, feitas em frequentes viagens pelo mundo não são encontradas em nenhum grande museu.

No entanto, quando a residência da colecionadora no bairro de Santa Cecília tornou-se pequena para abrigar tantas obras, Ema Klabin encomendou uma construção maior, que fosse erguida especialmente para albergar com segurança sua compilação. A casa branca construída em 1961 pelo consagrado arquiteto Alfredo Ernesto Becker foi inspirada no Palácio de Sanssouci, na Alemanha. No entanto, em 1978, com o trágico incêndio no Museu de Arte Moderna carioca, a colecionadora começou a se preocupar com seu acervo e iniciou uma luta para transformar a casa em fundação.

Ema faleceu em 1994, aos 87 anos, sem deixar nenhum herdeiro. Três anos depois, o historiador Paulo de Freitas Costa se encarregou de estudar todo o acervo com 1.545 obras. No entanto, foi só em 2007 que a mansão foi aberta à visitação seguindo uma determinação da empresária: nada entrava, nada saía. Ou seja, a casa deveria ser preservada da exata maneira que ela deixou.

Apesar de sempre ter morado em São Paulo, só conheci a casa-museu três anos depois de ser fundada. A sensação, ao entrar na residência, é de saudade de não-se-sabe-o-quê. Isso porque o acervo conta quase toda a história da civilização ocidental, além de conter esculturas chinesas e africanas. A linha cronológica da arte brasileira está representada em quadros e entalhes, desde peças religiosas do período colonial até artistas da primeira geração modernista, como Tarsila do Amaral e Portinari.

Curioso é que a alta classe da época costumava se reunir em jantares e sempre foi dado como regra que se anotassem os pratos servidos em cada banquete, tudo para que a refeição não fosse repetida em outra circunstância. Por conta disso, os organizadores da Fundação costumam remontar, na sala de estar, os jantares que Ema Klabin organizou. Desde a prataria utilizada, o cardápio e até as plaquetas com os nomes dos convidados em cada lugar da mesa. Um dos jantares foi dado em 1962 a José Mindlin, que montou a biblioteca da casa com dois mil exemplares escolhidos por ele.

Outro memorável jantar realizado por Ema Klabin foi para comemorar a aquisição do quadro Vista de Olinda, de Frans Post, um dos primeiros pintores a óleo do país. A colecionadora esperou seis anos para adquirir a obra e, quando feito, festejou com um grande jantar, deixando a pintura em destaque defronte à mesa dos convidados.

A Fundação Ema Gordon Klabin é aberta para visitação durante a semana, exceto às quartas, dedicadas a visitas escolares. Além disso, o último sábado do mês é destinado a performances culturais, de teatro e música à declamação de poesia. Se visitar a casa branca, vale atravessar a rua, aquela arborizada do Jardim Europa, e conhecer também os outros dois museus que formam o triângulo artístico paulistano.

Leia a coluna anterior de Denise Godinho:

O escultor e suas obras

Quem é a colunista: Denise Godinho.

O que faz: Jornalista.

Pecado Gastronômico: Spaghetti ao molho de gorgonzola do Café Girundino.

Melhor Lugar do Mundo: Qualquer lugar com os amigos.

O que está ouvindo em seu iPod, mp3, carro: Desde música brasileira com Paulinho Moska e Zeca Baleiro, passando pelo rock alternativo de bandas como Franz Ferdinand, até as músicas "fofas" de She & Him.

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Atualizado em 6 Set 2011.