Encenado pela primeira vez no país, o musical ganhou produção totalmente brasileira
Nos próximos quatro meses, a cidade de São Paulo ganhará ares portenhos. Com um elenco escolhido a dedo, o diretor Jorge Takla, famoso por montagens como My Fair Lady e O Rei e Eu, dá vida e, principalmente, voz a um grande ícone da história latino-americana: Evita.
Com estreia marcada para o dia 26, o musical entra em cena em um ano em que mulheres em cargos de liderança estão em voga no mundo inteiro (e no Brasil) para contar a trajetória dessa atriz que se tornou um ícone político para seu povo.
No casting, a atriz Paula Capovilla encara o papel principal, acompanhada de Fred Silveira, como Che Guevara, e o galã global veterano dos palcos musicais Daniel Boaventura, interpretando Juan Perón. Inspirada no original que ganhou os palcos de Londres em 1978, a superprodução reúne 45 atores, 20 músicos e 350 figurinos e foi totalmente idealizada em território tupiniquim.
Produto nacional
Assim como na montagem original, no Brasil a história se passa em 1952 e começa com a notícia de que Evita morreu de câncer, aos 33 anos. Diante da comoção nacional, Che Guevara passa a narrar episódios da vida dela, com flashbacks que vão desde sua infância até a relação com Juan Perón e o envolvimento com o poder.
A peça já havia ganhado uma versão em 1983 por aqui, totalmente inspirada na montagem da Broadway. Dessa vez, a produção é nacional, desde as roupas (cópias fiéis das originais de Maison Dior) até adaptações das canções como Don't Cry For Me Argentina e Another Suitcase in Another Hall, que são agora cantadas em português, com versões de Cláudio Botelho. "É uma montagem totalmente brasileira, desde figurinista, iluminação, coreografia e mão de obra", ressalta o diretor Jorge Takla.
O enredo conta a história sem se apegar apenas ao caráter político da personagem - pelo contrário, o tema é secundário, segundo o diretor. "A peça fala de poder, relação amorosa, ditadura militar, sucesso, traição, muitas coisas que vão além deles dois. Não é um musical confortável. É uma obra que faz pensar, é um soco no estômago. Exige uma plateia de qualidade, mas o nosso público está preparado", afirma.
Fotos: Fabio Xavier
O diretor Jorge Takla afirma que dez anos atrás não havia atrizes capazes de viver a Evita nos palcos
A arte imita a vida
A jovem Maria Eva sonhava em ser uma atriz de sucesso. Quis o destino que ela fosse, sim, famosa, mas de uma outra forma: sendo a fiel e principal personagem na ascensão de Perón à presidência da Argentina. A peça inspirada na vida e na influência exercida pela primeira-dama mais popular da Argentina surgiu com Tim Rice e Andrew Lloyd Webber, que lançaram não somente o musical, como também a trilha, denominada na época de ópera-rock.
Em 1978, a montagem chegou a Londres e, um ano depois, a Nova Iorque, onde faturou nada menos que sete Prêmios Tony (considerado o Oscar dos musicais). No cinema, o musical foi dirigido por Alan Parker, em 1996, e teve Madonna como Evita e Antonio Banderas no papel de Che. O filme levou o Oscar de melhor canção com You Must Love Me, composta exclusivamente para a versão cinematográfica.
Em relação à película, o diretor Jorge Takla, comenta que a diva do pop é uma pessoa interessante, assim como Evita. "Ela atrai multidões, mas a diferença é que aqui temos uma grande cantora e no filme temos a Madonna. Ela jamais poderia cantar esse papel no palco, mas no cinema ela fez muito bem como atriz", admite Takla, ao dizer também que não pensa levar o enredo às telonas, como em suas outras produções que se tornaram longas.
Para que a versão brasileira da peça não ficasse atrás de suas contrapartidas no cinema e nos palcos internacionais, Jorge Takka dedicou atenção especial à escolha do elenco. "Há dez anos não havia ninguém que pudesse ficar com o papel da Evita. Hoje nós temos para todos os personagens", derrama-se o diretor.
Sensibilidade à prova
Para ela, uma das grandes cenas do espetáculo é o momento em que Evita e Perón discutem, pois a passagem acontece próximo do fim da peça, quando os atores já estão exaustos e precisam colocar muita força no momento. "É muito marcante. Procurei inspiração na própria. Nada melhor que a fonte original. Li livros, vi documentários, muitas fotos, imagens e discutimos muito sobre a personalidade forte dela. Antes de começarem os ensaios, estudei as músicas, fiz aula de balé, de tango, canto, preparação com personal, pois a peça exige muito físico. Foi uma coisa especial para esse papel", diz.
Na pele de um presidente
Em relação ao processo de criação, Daniel confessa que o maior desafio é aproximar a realidade do papel ao público. "Há uma pesquisa, mas o principal é o elemento humano. Apesar de ele ser um homem muito sorridente, era um estrategista fantástico, sabia manipular e passou por muitas situações difíceis. Interpretar um personagem dramático com música é o grande desafio", confessa.
Colhendo ainda os louros do sucesso do detetive Diogo na novela Passione, Daniel revela que pretende mesclar o projeto teatral aos seus trabalhos na TV e ainda com sua carreira de cantor. "Divido a rotina entre a TV, a música e o teatro. Musical é algo que não consigo abrir mão. Acredito na longevidade desse projeto e quero que ele seja um sucesso. Acredito que eu consiga intercalar todos os projetos", ressalta.
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